Intervenção da vereadora Ana Bastos na Reunião de Câmara de 13 de julho de 2020 (pt. 1)
A cidade de Coimbra tem vindo a assistir a um rol de repavimentações, um pouco por toda a cidade, em arruamentos cuja priorização ou necessidade deixa muito a desejar.
São várias as reclamações e queixas que nos chegam por parte dos munícipes que, tendo presente o estado de muitas estradas rurais e secundárias urbanas, nos perguntam “porquê esta rua e não a outra que está em pior estado?” Outros, face ao resultado final, percebem que a faixa de rodagem fica ao nível, ou mesmo acima da cota dos passeios pondo em causa a segurança dos peões e a eficácia dos sistemas de drenagem pluvial.
É o caso da Avenida Afonso Henriques, a Rua Guerra Junqueiro, a R. Carolina Michaelis, a R. Paulo Quintela e Estrada de Coselhas, cujos moradores, em dias de grandes chuvadas se arriscam a ver as águas pluviais entrar-lhe pela porta dentro. Na Rua Augusto Rocha e na Rua dos Combatentes da Grande Guerra, o problema subsiste, embora atenuado perante as elevadas inclinações longitudinais.
Esta prática conservadora de colocar camada em cima de camada para evitar a fresagem, justifica muitas vezes a construção de passeios altíssimos para permitirem comportar novas camadas de desgaste, mas que na prática apenas servem para criar dificuldades acrescidas às pessoas de mobilidade reduzida e à construção de rampas de acesso aos atravessamentos pedonais, garagens e espaços adjacentes.
Esta constatação vem dar razão àquela que foi a crítica apontada pelo Somos Coimbra aquando da abertura ao concurso da empreitada, que denunciou a falta de um projecto específico que comprove a necessidade de reabilitação estrutural ou funcional de cada arruamento, bem como a solução de reabilitação mais adequada a cada caso. Será que em muitos dos arruamentos intervencionados, a fendilhação, covas, ondulações, rodeiras ou movimento de materiais registados, atingiram um nível de degradação que justificasse tal reforço de pavimento? Muito provavelmente não! Porque se rejeitou a adopção de correções pontuais e localizadas ou a procura de soluções francamente menos dispendiosas e muito possivelmente mais adequadas?
Esta câmara deve reavaliar os seus procedimentos construtivos em termos de requalificação do espaço público, sendo absolutamente essencial que estas intervenções se norteiem por uma visão de futuro, cada vez mais assente na substituição progressiva do pavimento betuminoso por outros materiais alternativos, seguros e visualmente interessantes, e que no seu conjunto contribuam para retirar a dominância ao veículo automóvel. Enquanto outras cidades aproveitam o período pós-pandémico para reverem as suas políticas de mobilidade urbana, no sentido da mudança e da inovação, Coimbra continua encerrada nas suas atitudes atávicas assentes na política do pró-carro e do “tapete betuminoso”.
O desnível entre a faixa de rodagem e o passeio deve ser mantido dentro da gama de valores recomendados face à hierarquização funcional de cada via, sendo indispensável que, em função do tipo de intervenção delineada, se avalie a necessidade de fresagem para manutenção da cota da faixa de rodagem. Importa ainda eliminar o desperdício, pelo que os resíduos de pavimento resultantes da fresagem e outros materiais secundários devem ser transformados em novos pavimentos, reduzindo a pressão sobre o gasto dos recursos naturais e protegendo o meio ambiente, rumo a uma economia circular, mais regenerativa e ecologicamente consciente.
Afinal, fazer bem, não sai necessariamente muito mais caro! É sim, saber e querer fazer….
Por opção desta Câmara, assistimos ao deitar de dinheiro público ao lixo, quando, por oposição, outros munícipes, como é o caso dos moradores da R. da Mina em S. Silvestre, aguardam há mais de 20 anos, nem que seja por um revestimento superficial ou uma simples camada de regularização, vincando o sentimento de discriminação territorial e do preço a pagar por se viver na periferia. Apesar das múltiplas promessas não cumpridas, quando é que estes munícipes vão poder aceder a casa com a dignidade que merecem e se exige?
Ver segunda parte da intervenção da vereadora Ana Bastos aqui.
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