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A Escolha - Parte I



Quando me perguntam “gostas de viver em Coimbra?”, eu respondo “sim, mas…” E o mas é tudo. Nasci aqui, cresci, estudei aqui. Como eu muitos ou quase todos daqui.

Porque ficámos? O que tem Coimbra para termos ficado?

Muitas vezes dizemos que gostamos de aqui criar os filhos e que os apoios ajudam. Outras vezes porque o trabalho não nos levou para outro lado, ou nos fez voltar ao mesmo lado. Ficámos porque a vida seguiu esse caminho, sem sabermos onde se encontra uma única explicação, porque não é única, são muitas. E no fundo de nós, até gostamos. Muito. Quem está longe sente o mesmo apelo, a mesma saudade irracional, aquele desejo de voltar.

Viver em cidades pequenas tem um custo, mas não tem que ser, necessariamente, uma fatalidade. E assumindo a escolha de aqui vivermos, consciente ou porque teve que ser, assumimos também o cansaço e a mesmidade da vida de todos os dias. Conscientes de que podia ser de outra forma. E podia.

Coimbra é um diamante em bruto, uma estrela escondida que urge promover e dar ao mundo. Tudo o que é preciso está por fazer, é certo, mas há tanta matéria prima para empreender e transformar. E este é o melhor ponto de partida, a matéria está lá basta dar-lhe vida.

E que matéria é esta?

Há toda uma história escondida que urge dar ao mundo. Há um achado arqueológico em cada escavação. Há um rio e margens. Há edifícios sem fim. Há um mercado. Há museus. Há algumas empresas de sucesso, apesar dos "apesares". Há jardins mágicos. Há incubadoras de ideias. Há música em cada canto. Há teatro, há folclore, tradição. Há as pessoas que vivem em Coimbra, ou perto de Coimbra, que trabalham em Coimbra e que querem fruir Coimbra, ao fim de semana, nas férias, no Inverno, no Verão. De manhã, à tarde, à noite. E há turistas a chegar. Muitos.

E do que estamos cansados?

De tudo que é nada. Da história presente em cada espaço desta cidade e que não se conta a ninguém. Dos museus que ninguém vê e a que ninguém vai. Dos jardins confinados a ser jardins, suspensos à espera, sem história, sem vida, sem pessoas. Da falta de espectáculos, de teatro, de música. Ora demasiado simples ora demasiado fechados e elitistas. Do “oito ou do oitenta”. Do mercado, do rio e das margens semi-vivas. Da baixa moribunda. Das pessoas que não são só estudantes que precisam desta cidade viva, plena, que precisam que ela “lhes dê que fazer” à semana e aos fins de semana, para que fiquem. E dos que, de passagem, precisam de querer voltar.

Planos de mudança?


Já todos falámos imenso do que está por fazer, a altura é de concretizar as ideias, dar-lhes vida. Integrar um movimento cívico onde todos, atrevo-me a dizer, partilham as mesmas inquietações e os mesmos desejos de mudança, sem “amarras” partidárias, só por Coimbra e para Coimbra, é um enorme privilégio. Ver crescer as ideias, as estruturas, começar do nada e convertê-lo em tudo. É uma magia qualquer que nem sabemos bem descrever. Só se vive. E isso basta.

Para passarmos a dizer “vivo em Coimbra, porque…” e deixarmos de dizer “vivo em Coimbra, mas…”

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