A discussão pública sobre a avaliação ambiental da Linha do Hospital do Sistema Metro Mondego (SMM) permitiu ter acesso a muitos elementos que, quando foi aprovado o projeto na Câmara Municipal, não estavam disponíveis, como explicado aqui.
O Movimento Somos Coimbra submeteu os seus comentários ao projeto, assinados pela vereadora Ana Bastos, especialista em Transportes e Vias de Comunicação pela Ordem dos Engenheiros. Neles expressa várias preocupações, em particular as seguintes:
O Pólo I da Universidade não é servido, com o traçado proposto a ficar mais longe (Praça da República) do que o projeto anterior que, apesar de usar carris, passava pela Praça do Papa João Paulo II (Arcos do Jardim). Paradoxalmente,a substituição do modo ferroviário (metro ligeiro de superfície) pelo rodoviário (MetroBus), apesar de ser mais flexível, traduz-se aqui numa redução da cobertura geográfica em relação à solução anteriormente prevista, quando se esperava que, pelo contrário, fosse estendido até à Praça D. Dinis. A falta de resolução desta debilidade, que fará perder ao sistema inúmeros utilizadores, justifica, só por si, a não aprovação desta solução.
Não é visível qualquer preocupação relativa à integração funcional e intermodalidade, seja nos pontos nevrálgicos de ligação à rede dos SMTUC/outros operadores, seja à rede pedonal e a outros modos alternativos. Por exemplo, é preciso identificar e beneficiar os circuitos pedonais que passam a servir cada uma das paragens do Metrobus. Não é aceitável que não seja assegurado um passeio público de ligação do cais da paragem da Câmara, à Praça 8 de Maio.
Os relatórios não abordam os impactes resultantes da redistribuição do tráfego associados à eliminação de alguns sentidos de trânsito em eixos entretanto ocupados pelo MetroBus. Assume particular relevância o desvio do tráfego da atual R. da Sofia (sentido sul-norte) para a R. da Manutenção Militar e da R. Lourenço Almeida Azevedo para a R. Almeida Garret /R. Tomar/R. Pedro Monteiro.
O Largo da Cruz de Celas vai ficar sujeito a congestionamentos superiores aos atuais, pois a sua reserva de capacidade é significativamente reduzida, sem que seja apontada qualquer solução para contrapor a esse efeito; o estudo muito sucinto que é apresentado aponta precisamente nesse sentido. O projeto do metro ligeiro previa a construção de um túnel, que por razões meramente económicas, agora é eliminado sem alternativas nem explicações.
Também na Praceta Mota Pinto a redução de capacidade resultante do corredor no MetroBus não é estudada nem compensada.
Não é definido um canal dedicado para o MetroBus em alguns pontos do seu traçado, sem serem dados elementos claros que analisem os riscos de bloqueio ou congestionamento. Na rua Doutor Afonso Romão, de ligação entre os HUC e o Hospital Pediátrico, onde há reserva de capacidade, não é compreensível porque não é criada também uma via dedicada. Desde logo se sublinha a elevada procura de estacionamento ilegal a que este trecho está sujeito, o que tenderá a traduzir-se em atrasos e conflitos indesejáveis.
Só um sistema de MetroBus eficiente, confortável e fiável, devidamente complementado pela rede dos SMTUC, se revelará capaz de alterar padrões de deslocação em Coimbra e de contribuir para a redução dos impactes ambientais no setor dos transportes. Trata-se do primeiro projeto de MetroBus a ser implementado em Portugal, pelo que Coimbra não pode desperdiçar a oportunidade do projeto ser um êxito e de servir de modelo a ser replicado por outras cidades nacionais e europeias. Coimbra deve ser notícia pelos bons e não pelos maus exemplos.
O Movimento Somos Coimbra reforça a enorme relevância deste projeto para Coimbra, pelo que o mesmo não pode ser gerido por princípios minimalistas e de minimização de custos, com prejuízo do sistema, dos utilizadores e da cidade. Pelo contrário, a solução a adotar deverá permitir olhar para um sistema de transportes com a ambição, eficiência e inteligência que a cidade merece. Leia o parecer completo aqui.
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