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Criar um plano sério de ação pedonal


( Intervenção da vereadora Ana Bastos na reunião da Câmara de 25 de Novembro de 2019)


Andar a pé é o meio de deslocação mais acessível a quase todos…. Por isso é obrigação de qualquer município cuidar do espaço público, tornando-o inclusivo, atrativo e capaz de responder às exigências de todos. Mas, infelizmente, o que vemos em Coimbra é uma postura passiva e uma rede pedonal desleixada, descontínua e insegura.

Promover a circulação pedonal é convidar as pessoas a usufruir da cidade e dos espaços mais interessantes — o que significa construir passeios mais largos, dar continuidade longitudinal e transversal aos circuitos pedonais, atribuir prioridade aos peões nos semáforos, conceber percursos fáceis, criar zonas de descanso, sombreamentos, etc.

Esta é a política do futuro, até porque o investimento inicial é muito pequeno, comparativamente ao efeito que assume na qualidade de vida das pessoas residentes e na promoção do turismo. Por outro lado, este eixo continua a gerar grandes oportunidades de financiamento que importa aproveitar.


Em Coimbra, os poucos investimentos visíveis são concentrados no centro histórico, sob o chapéu de financiamento do PEDU, mas onde o espaço público já é maioritariamente pedonal.


Esse investimento nos centros históricos, nos espaços turísticos, apesar de relevante, não pode impedir que se cuide dos que não têm um espaço público e, às vezes, nem sequer dispõem de passeios para andar.

Assim, a prioridade não deve passar pela substituição de uns materiais por outros mais caros nos espaços centrais, mas sobretudo por construir passeios onde estes ainda não existem. E esta tem sido uma prioridade bem patente nos contratos inter-administrativos com as Juntas de Freguesia, mas como a verba não estica, vão-se construindo à medida que os recursos o permitem!


Importa, por isso, lançar um olhar atento aos espaços urbanos periféricos onde muito, ou quase tudo, continua por fazer! Assim, perguntamos, quando é que esta câmara vai desenvolver um plano de acção pedonal, que permita definir um conjunto de estratégias e medidas que tornem este município caminhável de forma agradável e segura? Quando é que se vão definir requisitos e prioridades de investimento no município?


Para além das preocupações crescentes em termos ambientais, será que a previsível entrada ao serviço do MetroBus, a revisão das zonas de interface intermodal, ou o potencial de crescimento turístico, não justificam a definição de uma visão estratégica sobre onde e como devemos caminhar em cada espaço? Não será esta a altura ideal, para uma verdadeira alteração de comportamentos?


Mas os reptos da atualidade lançam novas preocupações e desafios.


Será que o crescente envelhecimento da população do município não justifica a adopção de medidas de apoio ao idoso? Será a nossa cidade inclusiva? Será que a ligação estratégica entre a zona alta e baixa da cidade não justifica a criação de novos meios mecânicos facilitadores à circulação? Serão os materiais de revestimento utilizados os mais adequados a cada zona?


Com a transformação do metro ligeiro em MetroBus, o que se pode esperar da Avenida Aeminum quando esta voltar a abrir ao serviço, após a estabilização dos muros? Os peões e ciclistas serão os utilizadores preferenciais, ou manter-se-á a circulação automóvel? Qual o instrumento de gestão a suportar as ações da CMC? Os trabalhos desenvolvidos pelo Arquiteto Bousquet e integrados na ARU Coimbra Baixa-Rio? Mantem-se a nova ponte pedonal, ou estão a ser desenvolvidas novas ideias para essa frente urbana?


Todas estas questões carecem de resposta urgente, assim como é urgente criar mapas pedonais que permitam recomendar percursos em função das condicionantes físicas dos peões ou de preferências pré-declaradas (eco-circuitos turísticos, inclinações máximas…), tirando partido do património edificado, monumental ou da riqueza natural de cada espaço do município. Paralelamente, e porque estamos na era das novas tecnologias, toda esta informação deve ser vertida em aplicações informáticas de fácil uso, à semelhança de alguns municípios do norte do país.


E porque, depois de mais de 4 anos de impasses, a recente aprovação do Regulamento de Sinalização do Trânsito (RST), pela Assembleia da República, veio finalmente institucionalizar as zonas de coexistência e o correspondente sinal identificativo, o qual, só por si, impõe a prática da velocidade máxima de 20km/h, o SC desafia esta Câmara Municipal a delimitar uma ou mais zonas eminentemente residenciais para implementação do conceito, a título piloto.


Mais uma vez a CMC tem aqui a oportunidade de ser pioneira na aplicação deste conceito em Portugal, identificando-se, entre outros locais, inúmeras células integrantes do bairro Norton de Matos, ou no Bairro de Celas, com grande potencial de aplicação do conceito. Uma oportunidade para melhorar a segurança rodoviária, gerir o estacionamento e requalificar o espaço urbano.


As condições estão reunidas, por isso podemos fazer desta cidade uma verdadeira cidade do conhecimento e da inovação. É só querermos!

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