A Câmara Municipal de Coimbra (CMC) eliminou totalmente a vegetação ripícola da margem direita do Mondego, entre a praia do Rebolim e a ponte da Portela. O habitat da zona foi destruído e a margem do rio ficou completamente desprotegida contra a erosão, não tendo sido apresentada, até ao momento, qualquer justificação ou planeamento por parte da autarquia para esta intervenção tão drástica e anti-ecológica e sem que seja debatido ou aprovado nenhum projeto para aquele espaço nobre e sensível.
Independentemente do fim a que se destinam os trabalhos de devastação efetuados, o Somos Coimbra considera que a destruição das galerias ripícolas numa extensão de quase dois quilómetros é inteiramente condenável.
Depois de todos os recursos gastos a desassorear a zona do rio em frente à cidade, é inexplicável que agora se criem as condições para um rápido assoreamento. Para o Somos Coimbra é óbvio que esta intervenção da CMC vai originar o aumento da velocidade da corrente ampliando os efeitos negativos das cheias; e vai ainda contribui para desestabilizar a margem direita (pela falta das raízes de árvores e arbustos) tornando-a extremamente vulnerável à erosão pela corrente, pelo que é expectável que se percam grandes extensões de terreno nas próximas cheias, com os detritos a acumularem-se junto ao açude. Para além de destruir o abrigo e o alimento para a fauna terrestre e aquática, afetando a biodiversidade, é evidente que esta desmatação vai ainda dar origem à necessidade de um novo desassoreamento do rio em menos de 10 anos, tal como no Rebolim.
Para lá destas consequências ambientais óbvias, importa ainda sublinhar que a zona em causa integra: Domínio Público hídrico; Faixa de Proteção contígua à margem da Albufeira Açude; e Reserva Ecológica Nacional (Zonas Ameaçadas pelas Cheias e Áreas Estratégicas de Proteção e Recarga de Aquíferos). Logo, esta intervenção não poderia ter ocorrido sem o acordo da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro – CCDRC, o que o Somos Coimbra não acredita que tenha acontecido, mas que agora deve pronunciar-se publicamente sobre a situação.
O Somos Coimbra considera que é fundamental que a CMC venha justificar de imediato esta intervenção, abrindo um inquérito interno para apurar responsabilidades quanto a esta desmatação radical e massiva; bem como inicie de imediato a reposição da vegetação ripícola na margem do Mondego na zona afetada; e instale rapidamente mecanismos de proteção da margem, que permita aguentá-la até a nova vegetação estar suficientemente desenvolvida para voltar a cumprir a sua missão de proteção da margem.
Somos Coimbra
25 de março de 2021
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