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A indignação do Porto e a indignação de Coimbra


Opinião de José Manuel Silva publicada no espaço "Fala o leitor" do "Diário de Coimbra" , a 30 de maio


"Sr. Diretor;

Rui Moreira, o edil independente do Porto, desdobrou-se em entrevistas e intervenções, criticando com veemência o plano da TAP para a retoma dos seus voos em Junho, centrado em Lisboa. O Norte indignou-se em uníssono, sem delongas nem hesitações, sem poupar nos decibéis nem nas palavras.


O ruído foi de tal forma que o Presidente da República e o Primeiro Ministro se pronunciaram criticamente sobre o plano da TAP, que foi obrigada a revê-lo. Com resultados positivos.


Muito mais do que uma cidade, o Porto assume-se como epicentro cultural, económico e político de uma imensa área metropolitana, que rivaliza com a capital e que não admite ser relegada para segundo plano.


E em Coimbra, o que se passa?


As zonas industriais de Coimbra degradaram-se perante a passividade autárquica, nada fazendo para atrair novos investimentos, com a consequente perda de empregos, de população, de dinâmica social e económica, de número de deputados, de instituições públicas e privadas e de relevância política.


Coimbra é somente o 19º concelho nacional, com 134 mil residentes, em breve ultrapassada por Famalicão e Leiria. Coimbra é o 53º concelho em empresas não financeiras/100 habitantes e somente o 60º concelho em bens exportados (incluindo o turismo), atrás de concelhos como Nelas, Alenquer, Vizela, Covilhã, etc.


Coimbra é o pior concelho do país na perda de jovens residentes dos 24-29 anos, por falta de emprego e oportunidades, tendo perdido 55% destes jovens nos últimos 17 anos (a média do país foi de 34%).


Coimbra não tem ligação direta de autoestrada nem à Europa nem ao interior do país, as obras do IP3 arrastam-se dolentemente, aguarda há 50 anos por um novo Palácio da Justiça, aguarda há 30 anos por obras no liceu José Falcão (e outros), assiste passivamente aos atrasos do metro e à sua transformação numa mera carreira de autocarros que nem sequer serve o polo I da UC (enquanto os metros de Lisboa e do Porto continuam a receber centenas de milhões), a avenida central vem perdendo fulgor há 60 anos, o edifício do antigo Pediátrico envelhece até à ruína sem utilidade, os jardins agonizam, a Baixa continua sem um plano de recuperação, a rua da Sofia, património mundial, está esquecida e o rio Mondego desaproveitado, a nova maternidade não dá à luz, o Hospital dos Covões não tem um projecto de futuro, a Penitenciária cerca o coração de Coimbra, a velha Estação Velha nunca mais é uma moderna estação intermodal, a cultura apenas sobrevive e não é referência nacional, as freguesias mais periféricas são esquecidas, etc., etc..


Não fora o dinamismo da Universidade, do Politécnico e do Centro Hospitalar, Coimbra seria uma aldeia. Nem a Académica-OAF se aguenta na primeira divisão...


O Porto indigna-se e afirma-se, o país treme e tudo muda.


Ignorada pelo poder central, satisfazendo-se com migalhas, Coimbra repousa anestesiada, entretida a renovar tapetes de alcatrão e a fazer algumas obras de manutenção.


Não será tempo de Coimbra se indignar, se sublevar e se desenvolver?


José Manuel Silva"



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