Assistimos à apresentação do projecto e ficamos chocados pela forma humilhante como Coimbra está a ser tratada pelo Governo e pelo Presidente da Câmara Municipal de Coimbra.
Subscrevemos por inteiro o editorial de Amílcar Correia, no Jornal Público de 2 de Junho, intitulado “O país pequenito”, que, com voz independente, resume o essencial.
Não é sério apresentar um projecto pela rama, sem qualquer consulta pública prévia e sem responder a nenhuma das críticas fundamentadas ao mesmo, nomeadamente as feitas por um especialista em transportes, o Prof. Manuel Tão.
Concretamente, o que significa mais este estudo?
Que todos os estudos anteriores estavam errados! É impressionante, mas é isso mesmo que o governo veio dizer: que todos os estudos feitos até hoje, por múltiplos especialistas, estavam errados! Mas o que assegura que este novo esteja correcto? Nada, absolutamente nada.Trata-se apenas de uma falácia eleitoral. Como diz o povo ”com papas e bolos se enganam os tolos”...
Que foi um erro grave e irresponsável as Câmaras de Miranda do Corvo e da Lousã terem vetado o concurso internacional de 2005. Já tudo poderia hoje estar feito, com um verdadeiro Metro a funcionar.
Foi afirmado pelos apresentadores que o Metro de superfície não permitia intermodalidade em Coimbra, o que é mentira. Com mais qualidade e conforto, permite exactamente a mesma intermodalidade do “MetroBus”.
Foi declarado que a Comissão Europeia chumbou o processo do Metro de superfície também por razões ambientais. É uma mentira evidente, pois o “MetroBus” não é mais amigo do ambiente do que o Metro.
Foi garantido, sem qualquer justificação, que os tempos de circulação do “MetroBus” seriam mais reduzidos, mas há especialistas em transportes que, relativamente ao Metro, dizem não ser possível nem realista.
Foi afirmado que a Comissão Europeia chumbou o projecto do Metro por razões financeiras, mas há especialistas que contestam que esta seja uma solução com uma melhor relação custo/benefício e, sobretudo, que sirva melhor as populações. Mas por que é que estas preocupações financeiras não se colocam para o Metro do Porto e de Lisboa, onde se gastaram e vão gastar milhares de milhões de euros sem qualquer hesitação?
Na verdade, como reconheceu o ministro Pedro Marques, a Comissão Europeia chumbou o projecto do Metro porque este nunca foi apresentado como prioritário por nenhum governo, nem sequer pelo actual!
Se o “MetroBus” é tão bom para Coimbra, porque não é aplicado nas zonas suburbanas e urbanas de Porto e Lisboa? A razão da sua aplicação a Coimbra é só uma: o espírito “Portugal dos Pequenitos” que tem presidido à Câmara da cidade. Exactamente por isso é que Coimbra está como está!...
Assim, para contentar o povo pouco exigente de Coimbra, foi necessário encomendar e pagar um novo estudo que justificasse uma solução mais baratinha.
A prova do miserabilismo da proposta apresentada é o facto de o Túnel de Celas já não ser executado apenas para diminuir os custos do projecto. E a Câmara de Coimbra aceita passivamente, não obstante um dos problemas do trânsito da cidade ser precisamente a falta de desnivelamentos, prevalecendo a mentalidade das rotundas...
A Cruz de Celas vai passar a ser atravessada por autocarros de grande dimensão? Com que consequências para o trânsito já hoje de grande fluxo? Como vai ser feito o acesso aos CHUC, que hoje já tem horas de engarrafamento? Onde serão as vias dedicadas de dois sentidos para o “MetroBus”?
Naturalmente, NADA foi dito sobre estas matérias, todas as dificuldades técnicas e os respectivos custos foram evitadas e abafadas...
Nada foi dito sobre a melhoria dos transportes públicos da cidade, em particular sobre os transportes públicos na margem esquerda do Mondego, completamente esquecida. O “Metrobus” não serve, portanto, a cidade de Coimbra.
O movimento “Somos Coimbra” reafirma que é necessário um plano integrado de mobilidade e urbanismo para o concelho de Coimbra, que garante uma boa acessibilidade em todas as entradas da cidade de Coimbra e uma boa fluidez no trânsito urbano, público e privado, que articule, no caso concreto, com a reposição de um comboio ou verdadeiro metro na Linha da Lousã.
Apoiamos a procura de soluções por parte de outros municípios, mas o município de Coimbra não pode ter uma solução subordinada única e exclusivamente a uma entrada na cidade.
Que ninguém venha mentir, como já o fizeram (a acreditar na comunicação social), a dizer que não defendemos esta articulação intermodal!
Recusamos o projecto pífio e humilhante que agora foi apresentado. Coimbra não se pode contentar com migalhas e com um sistema que não interessa nem ao Porto nem a Lisboa e que apenas existe numa terrinha japonesa como modelo de último recurso para uma região destruída por um terrível maremoto. Aliás, sublinhe-se, nem no Japão o projecto foi replicado!
Por mais que o establishment mostre fotografias de realidades completamente diferentes e incomparáveis, a verdade não pode ser subvertida.
Coimbra não pode continuar a ser tratada como a cidade dos pequenitos. Cada vez faz mais sentido uma candidatura independente como a nossa, que proteja a cidade dos interesses partidários e que a desenvolva para o futuro.
Comments